DIEGO ANDRÉ HORTÊNCIO ORTEGA DOS SANTOS
( BRASIL - SÃO PAULO )
Diego André Hortêncio Ortega dos Santos, 24 anos, natural de Ribeirão Preto mas certamente cearense, estudo medicina na Universidade Federal do Ceará.
Participei com algum sucesso de um prêmio regional, como melhor conto. Por hora é só.
PRÊMIO SESC DE POESIAS CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE. Poesias. Edição 2016. Brasília: SESC DF, 2017. 108 p.
Exemplar da biblioteca de Antonio Miranda
cerca distância
nossa cerca distância
faz exaurir (não longe,
espalmando-se) aqueles
mirantes do meio-dia,
outrora pontos de encontro
agora campos daninhos,
labirintos sem Borges —
e penso, aqui fincado:
as certezas de infância,
rememoro-as no anseio
por soluções de cabeça,
que ombros não vemos,
não mais — (cerca-nos alta).
densa, espessa, também
nos cerceia o faz pensar:
nela jogássemos xadrez
faria xeque a sua madeira
e nada nós, achando jogar.
pintada de só branco, sou
só preto, toda meneios,
cercamente não se importa —
deixa pintarem, treparem,
delimitar lavoura qualquer,
tornar-se degrau, palanque,
satisfazer desejos voyeur...
importantemente, cerca —
fosse oca de indiferença, mas
não, é densa de muito suor,
pois é certo que não trabalha:
deixa trabalharem-na:
o seu projeto acéfalo
(todo ombros largos),
cumpre-o cercandos-nos,
nós, parvos, nós, claustros,
parecemos-lhe débeis,
indistinguindo o fora
de dentro, tramando
cercos de fazer o bem,
vizinhos e hermeneutas.
aproxima-se a lonjura
em passos curtos vem
dissimular proximidade, e
a juventude fará o salto —
e como é bela, e, porém —
em pleno ar será abatida
de humores intratáveis
não irá longe... ao sopé
desse que é o maior cerco,
a vítima, encrustada de farpas,
será lembrada em razão
do quão fundo enterrada;
eis o projeto: que corra
suas ranhuras até o mar,
de cima a baixo, isolada,
essa tal cerca infâmia
e no fim teremos nada.
ou ignora tudo, e repara:
certas infâmias erguem-se,
ainda semblantes da vida,
as coisas maiores ainda,
que fazem — cerca de poucas
ou pouquíssimas vezes —
as vezes de minas, de brocas,
de martelos, serrilhas, tratores,
mecanismos aptos e bons
em derrubar, bem
derrubar o pau-madeira nobre
que muito alto cresce rente
à exaustão das vidas possíveis.
vê: há cercas sombras
castadas sem limites, sim,
mesmo em pleno meio-dia —
mas uma só queda já basta
e daí abaixo tudo entre nós.
*
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Página publicada em setembro de 2025.
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